sexta-feira, 10 de julho de 2009

Sandro - 174

As ameaças vem de todos os lados
É melhor esperar sentado que viver trancafiado
Apodrecendo, recebendo visita em hora certa
Vendo o sol nascer quadrado
E dormindo de olho aberto

Para isso não acontecer, fique ligado
Se é preto no Brasil, tem que ser escravizado
Trabalhando em casa de madame ou de doutor
Flanelhinhas dos seus carros
Não são contraventores

Produzindo um ato muito tradicional
Estacionamento irregular
No Theatro Municipal
Avenida Rio Branco, Centro, nervoso e financeiro
Nasci preto no Brasil
Dos meus pais sou herdeiro

Cresci, e sei onde enfio o meu nariz
Ninguém tem nada com isso, assim eu sou feliz
Empunhei, agora, minha arma e vou a luta
Não abaixo minha cabeça para nenhum filho da puta
Se não gostou, vem na mão
O meu medo já correu
Entre a minha mãe e a sua
A que chorar se fudeu

Pôs um filho no mundo
Bem feito, quem mandou?
Foi mexer com vagabundo
A quem ele mesmo roubou
Estou falando, eu não paro, e vou continuar
O meu passe custa caro, quero ver quem vai pagar!

Fui roubado no passado
Já nasci destituido,
Preto, pobre, moro longe
Antes do crime sou bandido
Vou andando em minha estrada
Um dia vou descansar
Mas antes disso, cuidado
Não deixe eu te pegar

Eu não conheço lei
Ajo sempre por trás dela
Foi você quem me ensinou
Seu corrupto safado, chamado Colonizador
Desça desse palco, vá lavar a sua bunda
Se cruzar no meu caminho
Vai entrar numa rabuda

Eu não vou te perdoar
Você nunca me perdoou
Me trata com chicote
Por causa da minha cor
Escravizou meus ascendentes
Nos tirou a educação
Está pagando com a vida
Você e toda sua nação

E agora descarado, vem aqui me ameaçar?
Com seus capangas fardados
Minha liberdade vai tirar?
Vem na mão, filhadaputa!
Vai tomar no cú
Quero ver se tú és homem
Sou descendente Zulu!

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b7/024debret.jpg

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