terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Karl Marx, os Judeus e o Complexo do Alemão


Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de Ciências Sociais
Trabalho de Ciência Política IV – Turma 02 – 2010/2

Aluno: Élbio Henrique Mendes Ribeiro.

Resenha
A Questão Judaica, Capítulos I e II
Karl Marx

Marx, nesta obra, analisa as proposições de Bauer, seu interlocutor, e expõe o problema da questão judaica na Alemanha, que é: a emancipação dos judeus.

Para que o Estado cristão emancipe os judeus, tanto um quanto outro devem abrir mão de sua essência.

“O Estado cristão não pode, sem abrir mão de sua essência, emancipar os judeus, assim como – acrescenta Bauer – o judeu não pode, sem abrir mão de sua essência, ser emancipado.” (Marx, pág. 14)

Ao passo que apresenta o problema, Marx apresenta também a solucão:

“Antes de poder emancipar os outros, precisamos emancipar-nos.

A forma mais rígida da antítese entre o judeu e o cristão é a antítese religiosa. Como se resolve uma antítese? Tornando-a impossível. E como se torna impossível uma antítese religiosa? Abolindo a religião. (…) Já não se enfrentarão mais num plano religioso, mas somente no plano crítico, científico, num plano humano. A ciência será, então, sua unidade. E, no plano científico, a própria ciência se encarrega de resolver as antíteses.” (pág. 15)

Marx, fazendo uma leitura das colocações de Bauer, considera que ele falha ao tratar única e exclusivamente da emancipação dos judeus e de centrar-se na crítica ao Estado cristão.
“… o erro de Bauer reside em concentrar sua crítica somente no ‘Estado cristão’, ao invés de ampliá-la para o ‘Estado em geral.’” (pág. 18)

Neste texto, o que Marx quer nos mostrar é que tanto a religião, quanto o Estado, são grilhões que aprisionam os homens. Mantém presos os homens seja por meio dos ritos, dogmas e hábitos (religião), seja por meio da força (Estado). Sendo assim, é de fato impossível uma emancipação humana se ela baseia-se somente na religião. Um Estado político como os Estado Unidos permite aos judeus a liberdade religiosa, mas não o liberta do seu julgo enquanto Estado.

“A religião é, cabalmente, o reconhecimento do homem através de um mediador. O Estado é o mediador entre o homem e a sua liberdade.” (pág. 21)

Para Marx, qualquer Estado que baseia-se em religião é uma forma religiosa anti-Estado. O Estado para existir enquanto Estado não professa religião.

“O chamado Estado cristão é o Estado imperfeito e a religião cristã serve de complemento e de instrumento de santificação desta imperfeição”. (pág. 27)

E avança:
“ O chamado Estado cristão necessita da religião cristã para aperfeiçoar-se como Estado. O Estado democrático, real, não necessita da religião para seu aperfeiçoamento político. Pode, ao contrário, prescindir desta, já que nele o fundamento humano da religião se realiza de modo secular. O chamado Estado cristão, por sua vez, conduz-se politicamente em face da religião e religiosamente diante da política. E, ao degradar as formas de Esatado a mera aparência, degrada igualmente a religião a simples aparência.” (pág. 27)

O Estado, para Marx, só existe emancipado da religião e dela se emancipa para existir enquanto Estado. Mas de nada adianta um Estado emancipado se o homem não se emancipa da religião.

“A emancipação do Estado em relação à religião não é a emancipação do homem real em relação a esta.” (pág. 31)
E ainda:

“… podeis emancipar-vos politicamente sem vos desvincular radical e absolutamente do judaísmo porque a emancipação política não implica em emancipação humana” (idem).

Quando os judeus clamam por emancipação, eles na verdade querem desfrutar, assim como os cristãos, dos direitos políticos, dos direitos humanos. Marx dá atenção a esses direitos em seu texto. Segundo ele, os direitos humanos “são direitos políticos” (pág. 32) “que só podem ser exercidos em comunidade com outros homens”. (idem) É a esses direitos políticos que os judeus estão buscando obter através das reivindicações de Bauer. Mas Marx parece querer nos mostrar que existe algo subreptício a esse clamor por liberdade dos judeus.

“A religião, longe de se constituir incompatível com o conceito dos direitos humanos, inclui-se expressamente entre eles. Os direitos humanos proclamam o direito de ser religioso, sê-lo como achar melhor e de praticar o culto que julgar conveniente. O privilégio da fé é um direito humano geral.” (pág. 34)

“Qual o homme que aqui se distingue do citoyen? Simplesmente, o membro da sociedade burguesa. Por que se chama membro da sociedade burguesa de “homem”, homem por antonomasia, e dá-se a seus direitos o nome de direitos humanos? Como explicar o fato? Pelas relações entre o Estado político e a sociedade burguesa, pela essência da emancipação política.

Registremos, antes de mais nada, o fato de que os chamados direitos humanos, os droits de l’homme, ao contrário dos droits du citoyen, nada mais são do que direitos do membro da sociedade burguesa, isto é, do homem egoísta, do homem separado do homem e da comunidade.” (pág. 34)

Ora, é a isso que os judeus reivindicam: terem os mesmo direitos que os cristãos. Ter os mesmos direitos burgueses que os cristãos. Ter o mesmo direito burguês à liberdade dentro da Alemanha. Esse direito individualista, que trata da liberdade do homem individual, do homem separado do homem. Não trata do direito do homem em coletivo. Dá a todos os homens o direito individual da liberdade.

O direito à liberdade é um direito individualista, portanto, não une os homens e sim os separa, segundo Marx. Esta liberdade é um instrumento alienador porque separa os homens em sua verdadeira luta por emancipação. Assim, enquanto o judeu insiste em uma natureza que o distingue da espécie humana, ele será incapaz de se reconhecer enquanto homem e unir-se a outros homens. Marx nos explica da seguinte forma o que ele considera por emancipação, para provar que os judeus não estão buscando emancipar-se:

“Toda emancipação é a redução do mundo humano, das relações, ao próprio homem.
A emancipacão política é a reducão do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente e, de outro, a cidadão do estado, a pessoa moral.
Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais, somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas “forces propes” como forças sociais e quando, portanto já não separa de si a força social sob forma de força política, somente então se processa a emancipação humana.” (pág. 42)

Aqui o homem será emancipado quando ele se converter de homem individual em ser genérico, quando ele for capaz de se considerar mais um dentro de tudo o que somos. Assim ele não mais irá separar de si a força social e a manifestará como atuação política.

Citando trechos de Bruno Bauer, Marx mostra que o judeu luta por emancipação religiosa, mas aprisiona monetariamente os cristãos que do dinheiro dos judeus necessitavam.

“O judeu que em Viena, por exemplo, pouco mais é que tolerado, determina, com seu poder monetário, a sorte de todo o império.” (pág. 45)

A luta dos judeus contra o preconceito religioso, pelo direito de manifestação religiosa, não era uma luta pela emancipação humana. Ser aceito como cidadão comum não é uma luta por emancipação humana. Marx denuncia que Bruno Bauer defendia que os judeus pudessem ter os mesmos direitos burgueses que os cristãos. Que os judeus também tivessem direito a liberdade que, consequentemente, é “o direito humano ‘de joir et de disposer à son gré de ses biens, de ses revenues, du fuit de son travail et de son industrie.’”. (pág. 36)

“Este não é um fato isolado. O judeu se emancipou à maneira judaica não só através do poder do dinheiro como, também, porque o dinheiro se converteu, através dele e a sua revelia, numa potência universal, e o espírito prático dos judeus no espírito prático dos povos cristãos. Os judeus se emanciparam na madida em que os cristãos se fizeram judeus.” (pág. 46)

E continua, citando o coronel Hamilton, ao comentar os hábitos dos habitantes da Nova Inglaterra:
“…estas pessoas estão convencidos de não ter outra missão neste mundo senão a de enriquecer mais do que seus vizinhos. A usura apoderou-se de todos os seus pensamentos; sua única distração é ver como os objetos se transformam sob sua ação. Quando viajam, levam às costas, de um lado para outro, por assim dizer, sua loja ou escritório, e só falam de interesses e de benefícios. E ao afastarem, por um momento, os olhos de seus próprios negeocios, o fazem para saber os dos outros” (pág. 46)

“Segundo Bauer, é falso o fato de que, teoricamente, negue-se ao judeu direitos políticos, enquanto que, na prática, possui imenso poder e exerce influência política por atacado, embora esta seja desdenhada a varejo (“Judenfrage”, pág. 114)” . (pág. 47)

Então o judeu, assim como o cristão, está também aprisionado à propriedade privada, à alienação o trabalho do homem pelo dinheiro. Esta emancipação à qual ele luta pra ter é uma emancipação religiosa/política, que por trás tem em si o desejo de ser uma econômica - sendo que já o era naquela época.

O Estado político tem um papel fundamental dentro deste sistema de alienação. Ele é quem garante, pela força, a liberdade do homem. Garante a liberdade do citoyen. A liberdade, segundo Marx, do homem burguês, com o intuito de garantir o direito a liberdade da propriedade privada. Para isso, o cidadão burguês considerado como o homem natural pela Constituição Francesa de 1791 e 1795, tem no Estado político a garantia da segurança pública.

“O direito humano à propriedade privada, portanto, é o direito de desfrutar de seu patrimônio e dele dispor arbitráriamente (à son gré), sem atender aos demais homens, independentemente da sociedade, é o direito do interesse pessoal. A liberdade individual e esta aplicação sua constituem o fundamento da sociedade burguesa. Sociedade que faz que todo homem encontre noutros homens não a realização de sua liberdade, mas pelo contrário, a limitação desta.” (pág. 36)

“A segurança é o conceito supremo da sociedade burguesa, o conceito de polícia, segundo o qual toda sociedade somente existe para garantir a cada um de seus membros a conservação de sua pessoa, de seus direitos e de sua propriedade.” (pág. 37)

E aqui neste parágrafo que, considero, ilustra seu pensamento e a conclusão do problema proposto, encerramos esta análise dos capítulos I e II de “A questão judaica”, de Karl Marx, mostrando o que ele entende por alienação do trabalho e sobre como ele considera que o homem citado na Constituicão Francesa de 1791 está aprisionado por esta alienação:

“O dinheiro é o Deus zeloso de Israel, diante do qual não pode legitimamente prevalecer nenhum outro Deus. O dinheiro humilha todos os deuses do homem e os converte em mercadoria. O dinheiro é o valor geral de todas as coisas, constituído em si mesmo. Portanto, despojou o mundo inteiro de seu valor peculiar, tanto o mundo dos homens como a natureza. O dinheiro é a essência do trabalho e da existência do homem, alienada deste, e esta essência estranha o domina e é adorada por ele.” (pág. 48)

Portanto, desta forma, é simplesmente inútil que o judeu lute por emancipação análoga a dos cristãos, sendo que estão todos aprisionados pela alienação da propriedade privada.

sábado, 26 de junho de 2010

crisálida


Há algum tempo atrás imaginava que seria capaz de realizar todos os sonhos e os cultivava. Eles levaram-me longe demais de mim mesmo, caí da cama e acordei. Não realizei os sonhos, eles é que realizaram-me no que sou hoje. Agora é trabalhar e não dormir para ganhar dinheiro.

Todo silêncio, todo cuidado é preciso em tratando-se de seres humanos. Você é só mais uma pequena particular de todo um Universo. Agora chore todas suas angústias com a cara no travesseiro, pensando em como poderia ser bom se tudo aquilo não tivesse acontecido, se tivesse tomado a decisão contrária da que tomou naquele momento. Cometa este erro fúnebre consigo mesmo e verá que nunca se perdoará pelo que deixou de fazer quando poderia ter feito outra coisa da vida ao invés de lamentar-se.

As pessoas vão e vêm em nossas vidas: isto é uma dádiva. Espero que a próxima pessoa a entrar na minha vida tenha menos pretenção de que eu seja perfeito. Minhas imperfeiçãos são parte de mim como cada fio de cabelo. O que importa é que eu produza, produza algo para alguém que não seja eu e receba uma quantia em dinheiro por isso. Seja um assassitato por encomenda ou uma entrega como moto boy, o importante na vida é trabalhar para alguém e recebe por este trabalho.

Esqueça a egoísta ambição de ser amado eternamente, de ter filhos e uma família feliz. Primeiro ganhe dinheiro e torne-se atraente aos olhos de quem será sua próxima companhia até que o amor acabe. Não deixe de treinar a forma de tratar a faxineira pois será importante. A elegância deve ser usada com todos e todas.

Talvez, quando chegar em Bali, esteja um lindo dia de sol. Mas sua passagem já está comprada e não é possível reservar o verão no mundo inteiro a todo instante. A primavera tem de estar dentro de nós para que o sorriso floresça. Talvez não seja possível reparar, mas isto é um poema.

Para continuar poética, a poesia não deve ser ortodoxa, simplesmente. Ela é a válvula de escape do mundo. Quando acabam-se as drogas, recorremos à diegese.

Minha utilidade resume-se a não ter mais o que fazer. Quero ocupar-me das circinstâncias advindas da esperança. Minhas lágrimas estão entaladas na garganta e não conseguem sair do meu peito no turbilhão desejado. A inquietude obriga-me a buscar o desafio de superar-me a cada instante, sendo eu mesmo quando gostaria de ser algo diferente; e vivo tentando transformar-me nesta coisa indefinida. Minha forma completa e acabada será um cadáver.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Com Sagrar





Cama, mesa e banho
Vai que vai, fundo
Sala, quarto, cozinha, banheiro
É, de quem chegar primeiro

Amanhã serei
Será
Não sei
De, vem, ser, hei

Chega mais um pouco
Perto longe de mim
Para sempre assim
Por você como um louco

Então eu acalanto
Minha boca
Fica de touca
Enquanto eu canto

Casa mento lado
De lá
Pra cá
Eu estou ato lado

(Para Vitorto)