terça-feira, 27 de novembro de 2012

SOMOS UMA SOCIEDADE DESIGUAL




Porque o problema do Brasil não é, isto está no meu último livro, que é o livro do trânsito - “Fé em Deus, Pé na Tábua” - o problema do Brasil não é o problema da desigualdade. A desigualdade é o que aparece na consciência. O problema real, o fundo do iceberg, é a questão da igualdade. Nós somos uma sociedade desigual. Todas as situações de igualdade nós nos sentimos mal. Esse "nós" eu estou falando nós brancos, de classe media, relativamente ilustrados, e que temos uma posição de um certo prestígio, ao longo, dentro de uma comunidade qualquer. Mesmo que você seja um morador de uma comunidade e seja um negro, se você tiver algum prestígio, se você entrar no Banco do Brasil e esperar mais tempo que o necessário com aquela fichinha na mão que agora tem, está muito bem organizado, as pessoas começam a se sentir impacientes. O trânsito é o espaço social onde você vê isso com a maior clareza porque no trânsito tem um componente que é importante e está no livro que se você por acaso desobedecer as regras do trânsito você tem uma sansão, você causa um acidente. O que não acontece por exemplo se você reclamar num banco, ou se você for mal educado numa fila, por exemplo, da barca pra Niterói, (Câmera fecha close no Matta) ou de um ônibus, se você não der o lugar pra uma pessoa deficiente ou pra uma senhora de idade ou pra um senhor de idade, ou aqui na PUC, os meninos sentados nas escadas e eu, não sou mais um jovem, não posso segurar no corrimão pra descer, não tenho segurança pra descer a escada. Então, esse tipo de, essa discussão, esse é o grande desafio brasileiro. 

E como é que você chega na igualdade? Aí entra a importância de um autor como Tocqueville. O que impressiona ele nos Estados Unidos de mil oitocentos e trinta e poucos é exatamente, uma sociedade, como é que pode ter um continente, ou meio continente – ou meio continente, naquela época não tinham conquistado o oeste – mais um meio continente igualitário? Onde a política, as pessoas participam da política. Porque a política se faz num sentido local. E é num sentido local que forma a política nacional, porque ele está lá antes da guerra civil, que depois resolve isso. Esses pontos são pontos importantes e eu acho que são desafios que a gente tem que enfrentar nesse final. Porque a gente está quase na metade do Século XXI e continuamos sendo uma sociedade profundamente desigual.