quarta-feira, 20 de julho de 2011

O momento sagrado durante o Trabalho Espiritual de São Pedro, da Doutrina do Santo Daime.


Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Ciências Sociais

Tópicos Especiais em Antropologia I

Professora: Márcia Contins

Aluno: Élbio Henrique Mendes Ribeiro

Trabalho de Campo:


O momento sagrado durante o Trabalho Espiritual de São Pedro, da

Doutrina do Santo Daime.

Neste texto pretendo apresentar minha experiência de participação do Trabalho Espiritual de São Pedro, da Doutrina do Santo Daime, tentando mostrar o contraste entre o momento sagrado e o profano, entre a vida religiosa e a vida cotidiana, e como se dá a busca pelo sagrado dentro da Doutrina através da execução do seu ritual.

A Doutrina do Santo Daime tem diversos tipos de Trabalhos Espirituais. Aqui falarei apenas sobre o Trabalho Bailado, executado no período de Festival, em homenagem à São Pedro. Este trabalho acontece do dia 28 de junho para o dia 29.

“Os seres sagrados são, por definição, seres separados. O que os caracteriza, é que, entre eles e os seres profanos, existe solução de continuidade. Normalmente, uns são externos aos outros. Todo um conjunto de ritos tem por objetivo efetivar esse estado de separação que é essencial.” (Durkheime)

“Todos aqueles que estiverem ouvindo estas verdades que são ditas pelos hinos, saibam que esta palavra não é nossa. Porque ela vem, como Ele diz: sai da minha boca e transmite em ti. O hino é uma coisa que deslapa e entra na consciência da pessoa pela intuição, ou por voz, em conformidade com o tipo do aparelho receptor, não é? O hino vem. Mas ele não é ele, aquela matéria que tá trazendo aquilo, é o Eu de lá do alto que tá mandando uma mensagem para o Eu interno. Se o Eu interno está bem desenvolvido, ele logo recebe. Se não, ele está ainda muito emperrado, tá ainda dormindo, não saiu de cima da sepultura, os anjos não vem revelar nada pra Ele. É que este Eu interno não está ouvindo nada. Ainda está morto. Daí é que eu sempre digo: ‘Quem não acordar agora, danou-se!’. É preciso aproveitar essas ervas sagradas que nós temos e que nos levam às alturas espirituais. Por elas é que a vida espiritual baixa sobre nós, material, em qualquer lugar que nós estiver. Não é só dentro de uma casa. É em qualquer lugar que nós formar e consagrar a nossa bebida, e as nossas plantas espirituais, nós vamos ao astral, que fica longe daqui e ao mesmo tempo fica bem perto daqui. Porque o corpo fica aonde fica, que é uma massa pesada. Mas o espírito vai aonde quer, porque ele sempre volta. Ninguém sabe donde ele veio, nem pra onde vai. Só o corpo, quando está bem desenvolvido e entrosado com o Eu interno, sabe o que ele diz” (Padrinho Sebastião; in: Alverga)

Meu trabalho sobre ritual foi realizado com base no “Trabalho de São Pedro da Doutrina do Santo Daime”. Este trabalho começou as 19:00hs do dia 28 de junho e foi madrugada adentro cantando um dos maiores Hinários da Doutrina, o Cruzeirinho do Padrinho Alfredo. Este trabalho acontece simultâneamente em todas as Igrejas que seguem a Linha do Padrinho Sebastião Mota em todo o mundo.

Sou Fardado na Doutrina e não seria elegante participar do trabalho sem Farda, o que me deu um certo trabalho. Cheguei em casa na noite do dia 27 e tive que lavar a calça do terno da minha Farda Branca e colocá-la para secar de um dia para o outro. Também tive que polir minha Estrela, que estava sem brilho. Um Fardado deve se apresentar impecável na “corrente” para o Trabalho de Juramidam.

A Doutrina do Santo Daime foi fundada em 1930, em Rio Branco, no Acre, por Raimundo Irineu Serra após um longo período de iniciação com a ayhuasca, na selva fronteriça do Brasil com o Peru, onde a bebida era utilizada em rituais mágicos-religiosos por grupos indígenas, desde tempos imemoriais. Raimundo Irineu Serra nasceu em 15 de dezembro de 1892, em São Luiz de Ferré, no estado do Maranhão. Chegou ao acre com 20 anos, integrando o movimento migratório de nordestinos para trabalhar na extração do látex, trazidos pela propaganda de enriquecimento fácil e fugindo da seca, que desde o final do século XIX castigava o nordeste brasileiro. Enfrentando o meio ambiente hostil e tendo que se adaptar a um novo mundo a duras penas, a cultura do homem nordestino vai fundir-se com a cultura indígena da região.

Chegando de Manaus, Irineu Serra vai atracar no porto Xapuri (AC), em 1912. Alí residiu dois anos, indo trabalhar posteriormente nos seringais de Brasiléia durante três anos e em seguida em Sena Madureira, onde residiu por mais três anos. Foi durante esse período que trabalhou na “Comissão de Limites”, órgão do governo federal encarregado da delimitação das fronteiras do Acre com a Bolívia e o Peru, aprofundando assim seu conhecimento nas matas acreanas.

No processo de aprendizagem da utilização da ayhuasca com índios peruanos, mestre Irineu aprendeu a reconhecer o cipó jagube, a folha chacrona (rainha) na floresta e a preparar a bebida. Com a utilização da ayhuasca, intensificou-se para ele a aparição de uma mulher chamada Clara, apresentando-se como Nossa Senhora da Conceição, a Rainha da Floresta. Seguindo as instruções dela, mestre Irineu recebeu o nome de Santo Daime para a Bebida e uma série de regras que constiruíram posteriormente os fundamentos do ritual do Santo Daime.

A origem da palavra Daime vem da revelação da Rainha da Floresta, quando ela esclarece para o mestre que aquela bebida tinha muitos nomes, mas o nome verdadeiro era o próprio verbo divino Dar, Dar para os que necessitassem e pedissem, originando assim o nome Daime. Daime amor, Daime luz, Daime força, são expressões características da Doutrina do Santo Daime. A Rainha da Floresta concedeu-lhe a patente de Chefe do Império Juramidam, e o identificam com entidades espirituais incaicas precursoras na utilização do Santo Daime.

O mestre Irineu passa por uma fase de iniciação no interior da Floresta, típica de xamãs indígenas, onde a disciplina, o jejum as privações e abstinência sexual são condições indispensáveis na formação do xamã, que com isso passa a ter conhecimento, poderes de cura, vidência e possibilidade de comunicação com os espíritos. A missão do mestre Irineu é a missão de Juramidam, entidade divina que representa Cristo, revelando os ensinamentos da doutrina através dos hinos, que correspondem a Bíblia Sagrada. Um hinário é o conjunto de hinos – versos, musicados simples – recebidos por uma pessoa através da capacitação divina, é a linguagem de comunicação com o astral, onde estão todos os seres divinos.

“O Santo Daime tem em seus rituais tipos diferentes de trabalho: as Festas Oficiais (ou Festival), Trabalhos de Concentração, Santa Missa e Trabalhos de Cura.

O Festival acompanha o calendário cristão, cuja comemoração inicia-se na véspera à noite, prolongando-se até o amanhecer. O ano religioso da doutrina inicia-se no dia 06 de janeiro, em homenagem aos Três Reis do Oriente, é uma cerimônia especial onde se entrega o trabalho do ano que passou ao mestre ou pessoa por ele designada e se recebe o trabalho espiritual do ano que se inicia. Seguem-se as datas de 20 de janeiro (São Sebastião), 13 de junho (Santo Antônio), 24 de junho (São João Batista), 28 de junho (São Pedro) 02 de novembro (dia de finados), 15 de dezembro (aniversário do mestre Irineu) e 25 de dezembro (nascimento de Jesus Cristo), 31 de Dezembro (Ano Novo).

O ritual do Festival começa às 19:00h, quando reza-se um terço e em seguida é servido o Santo Daime na medida de um copo pequeno para os adultos e meio para as crianças. Lê-se a consagração do aposento e dá-se início ao hinário previamente escolhido, que é cantado sempre marcado pelo rítmo de maracás, acompanhando o movimento de deslocar-se para a direita e para a esquerda. Os homens e as mulheres ficam separados formando o que se chama correntes masculina e feminina, só podendo homens e mulheres conversarem no intervalo, que ocorre à meia noite, estendendo-se por uma hora aproximadamente. Geralmente é no segundo tempo, quando reinicia o hinário do hino onde o Trabalho parou, que os músicos começam a tocar seus instrumentos.” (FERNANDES)

Realizei o Trabalho na Igreja Jardim Praia da Beira Mar, uma linda Igreja que fica na Prainha, Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro. É muito distante do Centro da Cidade, tive que sair mais cedo do meu trabalho. E é aí que começa a diferenciação entre o momento sagrado e o profano. O momento profano está ligado à coisas do Mundo, que na Doutrina são chamadas de “vida material”. O momento sagrado está ligado ao divino, à busca de Deus, ao “Astral”.

Saindo do trabalho (da vida material), me dei por conta de que passaria ao menos 08 horas dentro da Igreja, bailando, e que isto consumiria muita energia. Tinha pouco dinheiro. Entrei em uma mercearia e montei um farnel com bananas, pão de sal, pão doce, suco, biscoito, torradas... Não poderia ser alimento que fermentasse pois a ingestão do Daime pode entrar em conflito com o que foi ingerido causando peias violentas. Como o próprio nome sugere, é sempre bom evitar peias. Não é lá coisa muito boa para se passar. Eu já passei por algumas e cansegui realizar meu trabalho, desta vez, só com a luz do Daime.

Desci do ônibus, já no Recreio, e fui beirando o Mar até chegar na Igreja, o Céu estava limpo, as ondas quebrando na areia e pude evidenciar porque a Igreja recebe o nome de Jardim Praia da Beira Mar. Antes de chegar, a brisa marinha já vai limpando nosso pensamento e nos colocando em harmonia com as belezas da natureza, tão celebradas nos Hinos da Doutrina. O Cruzeiro do Sul se mostrava no Céu guiando os navegantes que buscavam seu caminho. Eu caminhava rumo ao Divino, ao Astral para realizar meu trabalho de campo.

Chegando na Igreja fui para o vestiário masculino, coloquei a farda e esperei para o início do trabalho que começa com a reza do terço. Posicionei-me na corrente em conformidade com todos os “irmãos” e “irmãs” que iam chegando e tomando seus lugares na reza do terço, depois de beberem o Santo Daime. Ao final da reza a corrente já estava praticamente formada. Sendo conduzido pelo “Padrinho” Nilson Caparelli, começou-se a cantar o Hinário a partir do Hino 96. O Hinário vai até o Hino 160 e depois ainda tem um complemento de mais 28 hinos que compõem uma parte do Hinário chamada de Nova Era. Antes de Cantar a Nova Era, foi realizado um intervalo de 45 minutos. Neste intervalo o Salão ficou vazio. Eu, que nesta Igreja conheço poucas pessoas, fiquei isolado, sozinho. Acabei indo caminhar pelo terreiro, no meio da Mata. Encontrei vários irmãos, parei, conversei, apliquei rapé. Logo após este período o “Padrinho” chamou à todos novamente. Cantamos a Nova Era.

No fim do trabalho apliquei mais um rapé e descolei uma carona para voltar para casa, em São Gonçalo. Foi uma jornada e tanto.

Em plena terça-feira, dia economicamente útil, homens e mulheres, de várias idades, realizaram, cada um, o seu trabalho espiritual, formando em conjunto a corrente que resulta em um coral de vozes da Doutrina do Santo Daime. Dentro destes trabalhos, existem relatos de acontecimentos de muitas coisas mágicas. Seriam a manifestação de Deus, mostrando a cada um o que cada um pediu ou precisa ver sobre si mesmo ou sobre o mundo.

Dentro do Trabalho as instruções são para que as pessoas meditem enquanto suas ações são voltadas para a execução dos ritos da Doutrina, que são simples: cantar e bailar de acordo com o que o hinário determina. Marcha, valsa ou mazurca. Enquanto as pessoas cantam e bailam, o exercício deve ser o de manter o pensamento dentro das “coisas da Doutrina”, fora das “coisas do mundo”. Não deve-se deixar o pensamento fugir para o que não for “a Doutrina”. Enquanto concentram-se no momento presente, no que está acontecendo naquele exato local e tempo, junto com a consagração da Bebida Sagrada, os participantes do ritual podem “chegar ao Astral” e ter as “mirações” que “o Daime vêm mostrar”. É assim que se dá a busca pelo sagrado na Doutrina do Santo Daime.

Tentei, como Evans-Pritchard, utilizar um método parecido com o que foi utilizado por ele para falar sobre “Bruxaria, oráculos e magia entre os Azande”. Além de, como nos orienta Roberto DaMatta, “tornar o familiar em exótico”. Também observei que as pessoas passam por momentos liminaridades, quando estão à caminho da Igreja, pois neste momento de ida para o ritual já não estão mais ligadas diretamente ao mundo profano mas ainda não estão dentro do ritual, praticando a busca pelo sagrado. Ao chegar na Igreja, a egrégora de estar entre os “Irmãos”, com vestimenta igual, consagrando a mesma bebida e realizando os mesmos ritos coloca à todos os participantes em “communitas”. Logo após o trabalho, as pessoas ficam novamente em liminaridade ao retornarem ao mundo profano, pegando o trânsito, tirando a farda, comendo alguma coisa; e no dia seguinte novamente em communitas com o mundo profano. Uma constante estrutuação e desestruturação, um pertencimento e despertencimento, mas sempre colocado dentro do calendário de acontecimento dos trabalhos espirituais. Quando executamos os rituiais, com base no “ O Processo Ritual” do Victor W. Turner.

Referências Bibliográficas:

DURKHEIM, Émile; in: As Formas Elementares da Vida Religiosa, Livro III, Capítulo Primeiro: “O Culto Negativo e Suas Funções: os ritos ascéticos”. Ed. Paulinas.

ALVERGA, Alex Polari de; in: O Evangelho Segundo Sebastião Mota. CEFLURIS Edtorial, Amazonas, 1998.

FERNANDES, Vera Fróes; in: História do Povo Juramidam – Introdução à Cultura do Santo Daime; Manaus; Ed.: SUFRAMA; 1986.

Bibliografia:

TURNER, Victor W.; in: O Processo Ritual: estrutura e anti-estrutura. Petrópolis, Vozes, 1974.

EVANS-PRITCHARD, E. E.; in: Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande. Ed.: Zarar Editores. Rio de Janeiro.

Da Matta, Roberto Augusto; in: Trabalho de Campo ou Como ter Antropologial Blues.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A Doutrina do Santo Daime e o Céu na Terra (Territorialidade, Território e Espaço)

Neste artigo pretendo apresentar como a territorialidade determina o território e o espaço utilizando como estudo de caso minha esperiência como membro da Doutrina do Santo Daime.

A Doutrina do Santo Daime foi fundada em 1930, em Rio Branco, no Acre, por Raimundo Irineu Serra após um longo período de iniciação com a ayhuasca, na selva fronteriça do Brasil com o Peru, onde a bebida era utilizada em rituais mágicos-religiosos por grupos indígenas, desde tempos imemoriais.


Raimundo Irineu Serra nasceu em 15 de dezembro de 1892, em São Luiz de Ferré, no estado do Maranhão. Chegou ao acre com 20 anos, integrando o movimento migratório de nordestinos para trabalhar na extração do látex, trazidos pela propaganda de enriquecimento fácil e fugindo da seca, que desde o final do século XIX castigava o nordeste brasileiro. Enfrentando o meio ambiente hostil e tendo que se adaptar a um novo mundo a duras penas, a cultura do homem nordestino vai fundir-se com a cultura indígena da região.

Chegando de Manaus, Irineu Serra vai atracar no porto Xapuri (AC), em 1912. Alí residiu dois anos, indo trabalhar posteriormente nos seringais de Brasiléia durante três anos e em seguida em Sena Madureira, onde residiu por mais três anos. Foi durante esse período que trabalhou na “Comissão de Limites”, órgão do governo federal encarregado da delimitação das fronteiras do Acre com a Bolívia e o Peru, aprofundando assim seu conhecimento nas matas acreanas.

No processo de aprendizagem da utilização da ayhuasca com índios peruanos, mestre Irineu aprendeu a reconhecer o cipó jagube, a folha chacrona (rainha) na floresta e a preparar a bebida. Com a utilização da ayhuasca, intensificou-se para ele a aparição de uma mulher chamada Clara, apresentando-se como Nossa Senhora da Conceição, a Rainha da Floresta. Seguindo as instruções dela, mestre Irineu recebeu o nome de Santo Daime para a Bebida e uma série de regras que constiruíram posteriormente os fundamentos do ritual do Santo Daime.

A origem da palavra Daime vem da revelação da Rainha da Floresta, quando ela esclarece para o mestre que aquela bebida tinha muitos nomes, mas o nome verdadeiro era o próprio verbo divino Dar, Dar para os que necessitassem e pedissem, originando assim o nome Daime. Daime amor, Daime luz, Daime força, são expressões características da Doutrina do Santo Daime. A Rainha da Floresta concedeu-lhe a patente de Chefe do Império Juramidam, e o identificam com entidades espirituais incaicas precursoras na utilização do Santo Daime.

O mestre Irineu passa por uma fase de iniciação no interior da Floresta, típica de xamãs indígenas, onde a disciplina, o jejum as privações e abstinência sexual são condições indispensáveis na formação do xamã, que com isso passa a ter conhecimento, poderes de cura, vidência e possibilidade de comunicação com os espíritos. A missão do mestre Irineu é a missão de Juramidam, entidade divina que representa Cristo, revelando os ensinamentos da doutrina através dos hinos, que correspondem a Bíblia Sagrada. Um hinário é o conjunto de hinos – versos, musicados simples – recebidos por uma pessoa através da capacitação divina, é a linguagem de comunicação com o astral, onde estão todos os seres divinos.

A doutrina de Juramidam é resultante da união de características religiosas dos três elementos étnicos formadores da cultura brasileira: o índio, o negro e o branco. Raimundo Irineu Serra reinterpreta a sua cultura, saindo da condição de seringueiro para a situação de “escolhido”. A partir daí sua vida ganha novo significado, o aspecto material passa a ser secundário e o espiritual o mais importante: é o homem simples do povo que recria valores e se liberta da exploração da vida material.

O ritual

O Santo Daime tem em seus rituais tipos diferentes de trabalho: as Festas Oficiais (ou Festival), Trabalhos de Concentração, Santa Missa e Trabalhos de Cura.

O Festival acompanha o calendário cristão, cuja comemoração inicia-se na véspera à noite, prolongando-se até o amanhecer. O ano religioso da doutrina inicia-se no dia 06 de janeiro, em homenagem aos Três Reis do Oriente, é uma cerimônia especial onde se entrega o trabalho do ano que passou ao mestre ou pessoa por ele designada e se recebe o trabalho espiritual do ano que se inicia. Seguem-se as datas de 20 de janeiro (São Sebastião), 24 de junho (São João Batista), 02 de novembro (dia de finados), 15 de dezembro (aniversário do mestre Irineu) e 25 de dezembro (nascimento de Jesus Cristo).

O ritual do Festival começa às 18:00h, quando reza-se um terço e em seguida é servido o Santo Daime na medida de um copo pequeno para os adultos e meio para as crianças. Lê-se a consagração do aposento e dá-se início ao hinário previamente escolhido, que é cantado sempre marcado pelo rítmo de maracás, acompanhando o movimento de deslocar-se para a direita e para a esquerda. Os homens e as mulheres ficam separados formando o que se chama correntes masculina e feminina, só podendo homens e mulheres conversarem no intervalo, que ocorre à meia noite, estendendo-se por uma hora aproximadamente. Geralmente é no segundo tempo, quando reinicia o hinário do hino onde o Trabalho parou, que os músicos começam a tocar seus instrumentos.

A Farda

O Santo Daime possui uma vestimenta própria para cada trabalho: farda branca para os Trabalhos Oficiais e Farda Azul para os demais Trabalhos. Para as mulheres a farda branca constitui-se num vestido branco pregueado com um saiote verde mais curto pregueado por cima do vestido, faixa verde atravessada no peito com o símbolo de Salomão ao lado direito e no lado esquerdo a “rosa” para as mulheres e a palminha para as moças, juntamente com fitas compridas de várias cores, que são colocadas no ombro esquerdo. Na cabeça uma coroa bordada com lantejoulas brancas. Completando a farda tênis e meia branca. Os homens usam camisa, paletó, calça, meia e sapatos brancos, uma gravata azul e o símbolo de Salomão no lado esquerdo do peito para os solteiros e no lado direito para os casados.

A farda azul é mais simples, muito semelhante ao uniforme utilizado nas escolas: para as mulheres, saia azul pregueada, blusa branca com as iniciais do Centro bordadas no bolso, gravata borboleta azul, tênis azul e meia branca. Para os homens, calça azul, camisa branca, gravata preta, tênis azul e meia branca com a estrela de Salomão presa da mesma forma que a farda branca.

A Doutrina tem muitoDmais detalhes que não caberão aqui neste trabalho, mas as descrições acima tem como objetivo apresentar um pouco das características desta cultura que tem como principal missão a iluminação da alma de seus praticantes. A Doutrina do Santo Daime é um caminho para a salvação, a libertação dos vícios, para a vida eterna. Isto é descrito em muitos hinos.

Os hinos basicamente ensinam como os praticantes da Doutrina devem se comportar dentro e fora da Igreja (dos trabalhos espirituais). Muitos hinos relatam que a mansidão, a humildade, a caridade, a ajuda mútua, a união, a fé, a perceverança, o amor e outros sentimentos, emoções e valores devem ser cultivados e praticados pelos integrantes.

Ocorre que existe um mundo onde estes valores não são cultivados, um mundo onde os valores acima colocados estão totalmente longe de serem considerados como uma forma de avanço. Este mundo fora dos valores da Igreja são considerados como a “ilusão”. Os integrantes da Doutrina são obrigados a viver neste mundo de valores contrários aos que são praticados dentro da Doutrina. Mas como praticar estes valores em um mundo tão violento e entregue à maldade? Somente encontrando um local onde todas as pessoas que buscam essa prática possam se encontrar e dela comungar. Esses locais são as Igrejas.

As Igrejas do Santo Daime são espaços onde os praticantes constroem salões para a prática dos trabalhos espirituais. Geralmente estes salões são localizados dentro de espaços muito arborizados, de mata fechada, em reservas ecológicas com fauna e flora nativas e terrenos sem especulação imobiliária ou outro tipo de exploração econômica que cause alguma forma degradação ambiental. O respeito à natureza e a convivência e aprendizado com ela constituem também a base de valor dos praticantes da Doutrina.

A Doutrina está expandida por todo o mundo atualmente, em todos os continentes, na Holanda, no Hawaii, no Japão... E em todos estes lugares essas características, assim como a base da tradição e do ritual, são mantidos. Ou seja, seja lá em qual espaço físico for, a Doutrina mantém-se como uma busca pela integração do homem com a natureza vivendo com ela em harmonia. A transformação do espaço se dá com base nesses valores que criam os territórios das Igrejas que recebem o nome de Céu. No Rio de Janeiro podemos exemplificar a delimitação destes territórios com algumas Igrejas como o Céu do Mar, em São Conrado, Céu da Lua Branca, em Gaudinópolis – Nova Friburgo e o Céu da Montanha, no Vilarejo da Ponte dos Cachorros em Visconde de Mauá. Todas elas são Igrejas que se formarão pela vinda de pessoas que conheceram e conviveram com o Padrinho Sebastião, discípulo do mestre Irineu, que com ele aprendeu todos os fundamentos da Doutrina e fundou o Céu do Mapiá, no coração da Amazônia. Estas três Igrejas acima citadas e situadas no estado do Rio de Janeiro foram as primeiras Igrejas fundadas fora da floresta amazônica.

Com os nomes de Céu percebe-se claramente que os integrantes da Doutrina desejam deixar o espaço físico o mais natural possível e tornar estes espaços um pedaço do paraíso divino aqui ainda no Planeta Terra, antes do encontro com o Pai Eterno da Criação e da salvação da alma. Desta maneira podemos ver que o espaço é apropriado por um conjunto de pessoas que o dominam e fazem dele o uso de acordo com seus simbolos, crenças e valores. A aproproacão seria o termo mais indicado para utilizarmos em se tratando da Doutrina do Santo Daime pois está relacionado à vivência desses grupos naquele espaço físico e não com um valor de troca que está mais ligado ao termo de dominação. (Haesbart). A construção deste paraíso só é possível a partir da territorialidade praticada e cultivada por seus integrantes, que transformam os teritórios e os denominam de Céu. E é a territorialidade que transforma estes territórios em Céu pois ela, a territorialidade, está vinculada à forma como os daimistas, no caso aqui descrito, se organizam no espaço e à ele dão significado com base na cultura da Doutrina (Haesbart) que, como nos mostra o Padrinho Alfredo Mota, “o objetivo do daimista é uma vida unida, uma vida sem ambição e com compreensão espiritual. Atingir o Terceiro Milênio é atingir o tempo do Divino Espírito Santo. Não é só o tempo do espírito, é o tempo do divino Espírito Santo. Eu acredito numa vida muito educada, uma vida já fora de muitas ilusões. Isso porque a própria ilusão mostra que ou ela se acaba, ou cada um por si próprio se destrói.”. (Polari)

Desta forma podemos evidenciar, com o exemplo da doutrina do Santo Daime, que é a territorialidade, baseada em práticas culturais objetivas (concretas) e subjetivas (valores) que transformam o espaço e determinam os territórios da Doutrina que são como o Céu na Terra, o Paraíso.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Karl Marx, os Judeus e o Complexo do Alemão


Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de Ciências Sociais
Trabalho de Ciência Política IV – Turma 02 – 2010/2

Aluno: Élbio Henrique Mendes Ribeiro.

Resenha
A Questão Judaica, Capítulos I e II
Karl Marx

Marx, nesta obra, analisa as proposições de Bauer, seu interlocutor, e expõe o problema da questão judaica na Alemanha, que é: a emancipação dos judeus.

Para que o Estado cristão emancipe os judeus, tanto um quanto outro devem abrir mão de sua essência.

“O Estado cristão não pode, sem abrir mão de sua essência, emancipar os judeus, assim como – acrescenta Bauer – o judeu não pode, sem abrir mão de sua essência, ser emancipado.” (Marx, pág. 14)

Ao passo que apresenta o problema, Marx apresenta também a solucão:

“Antes de poder emancipar os outros, precisamos emancipar-nos.

A forma mais rígida da antítese entre o judeu e o cristão é a antítese religiosa. Como se resolve uma antítese? Tornando-a impossível. E como se torna impossível uma antítese religiosa? Abolindo a religião. (…) Já não se enfrentarão mais num plano religioso, mas somente no plano crítico, científico, num plano humano. A ciência será, então, sua unidade. E, no plano científico, a própria ciência se encarrega de resolver as antíteses.” (pág. 15)

Marx, fazendo uma leitura das colocações de Bauer, considera que ele falha ao tratar única e exclusivamente da emancipação dos judeus e de centrar-se na crítica ao Estado cristão.
“… o erro de Bauer reside em concentrar sua crítica somente no ‘Estado cristão’, ao invés de ampliá-la para o ‘Estado em geral.’” (pág. 18)

Neste texto, o que Marx quer nos mostrar é que tanto a religião, quanto o Estado, são grilhões que aprisionam os homens. Mantém presos os homens seja por meio dos ritos, dogmas e hábitos (religião), seja por meio da força (Estado). Sendo assim, é de fato impossível uma emancipação humana se ela baseia-se somente na religião. Um Estado político como os Estado Unidos permite aos judeus a liberdade religiosa, mas não o liberta do seu julgo enquanto Estado.

“A religião é, cabalmente, o reconhecimento do homem através de um mediador. O Estado é o mediador entre o homem e a sua liberdade.” (pág. 21)

Para Marx, qualquer Estado que baseia-se em religião é uma forma religiosa anti-Estado. O Estado para existir enquanto Estado não professa religião.

“O chamado Estado cristão é o Estado imperfeito e a religião cristã serve de complemento e de instrumento de santificação desta imperfeição”. (pág. 27)

E avança:
“ O chamado Estado cristão necessita da religião cristã para aperfeiçoar-se como Estado. O Estado democrático, real, não necessita da religião para seu aperfeiçoamento político. Pode, ao contrário, prescindir desta, já que nele o fundamento humano da religião se realiza de modo secular. O chamado Estado cristão, por sua vez, conduz-se politicamente em face da religião e religiosamente diante da política. E, ao degradar as formas de Esatado a mera aparência, degrada igualmente a religião a simples aparência.” (pág. 27)

O Estado, para Marx, só existe emancipado da religião e dela se emancipa para existir enquanto Estado. Mas de nada adianta um Estado emancipado se o homem não se emancipa da religião.

“A emancipação do Estado em relação à religião não é a emancipação do homem real em relação a esta.” (pág. 31)
E ainda:

“… podeis emancipar-vos politicamente sem vos desvincular radical e absolutamente do judaísmo porque a emancipação política não implica em emancipação humana” (idem).

Quando os judeus clamam por emancipação, eles na verdade querem desfrutar, assim como os cristãos, dos direitos políticos, dos direitos humanos. Marx dá atenção a esses direitos em seu texto. Segundo ele, os direitos humanos “são direitos políticos” (pág. 32) “que só podem ser exercidos em comunidade com outros homens”. (idem) É a esses direitos políticos que os judeus estão buscando obter através das reivindicações de Bauer. Mas Marx parece querer nos mostrar que existe algo subreptício a esse clamor por liberdade dos judeus.

“A religião, longe de se constituir incompatível com o conceito dos direitos humanos, inclui-se expressamente entre eles. Os direitos humanos proclamam o direito de ser religioso, sê-lo como achar melhor e de praticar o culto que julgar conveniente. O privilégio da fé é um direito humano geral.” (pág. 34)

“Qual o homme que aqui se distingue do citoyen? Simplesmente, o membro da sociedade burguesa. Por que se chama membro da sociedade burguesa de “homem”, homem por antonomasia, e dá-se a seus direitos o nome de direitos humanos? Como explicar o fato? Pelas relações entre o Estado político e a sociedade burguesa, pela essência da emancipação política.

Registremos, antes de mais nada, o fato de que os chamados direitos humanos, os droits de l’homme, ao contrário dos droits du citoyen, nada mais são do que direitos do membro da sociedade burguesa, isto é, do homem egoísta, do homem separado do homem e da comunidade.” (pág. 34)

Ora, é a isso que os judeus reivindicam: terem os mesmo direitos que os cristãos. Ter os mesmos direitos burgueses que os cristãos. Ter o mesmo direito burguês à liberdade dentro da Alemanha. Esse direito individualista, que trata da liberdade do homem individual, do homem separado do homem. Não trata do direito do homem em coletivo. Dá a todos os homens o direito individual da liberdade.

O direito à liberdade é um direito individualista, portanto, não une os homens e sim os separa, segundo Marx. Esta liberdade é um instrumento alienador porque separa os homens em sua verdadeira luta por emancipação. Assim, enquanto o judeu insiste em uma natureza que o distingue da espécie humana, ele será incapaz de se reconhecer enquanto homem e unir-se a outros homens. Marx nos explica da seguinte forma o que ele considera por emancipação, para provar que os judeus não estão buscando emancipar-se:

“Toda emancipação é a redução do mundo humano, das relações, ao próprio homem.
A emancipacão política é a reducão do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente e, de outro, a cidadão do estado, a pessoa moral.
Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte, como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais, somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas “forces propes” como forças sociais e quando, portanto já não separa de si a força social sob forma de força política, somente então se processa a emancipação humana.” (pág. 42)

Aqui o homem será emancipado quando ele se converter de homem individual em ser genérico, quando ele for capaz de se considerar mais um dentro de tudo o que somos. Assim ele não mais irá separar de si a força social e a manifestará como atuação política.

Citando trechos de Bruno Bauer, Marx mostra que o judeu luta por emancipação religiosa, mas aprisiona monetariamente os cristãos que do dinheiro dos judeus necessitavam.

“O judeu que em Viena, por exemplo, pouco mais é que tolerado, determina, com seu poder monetário, a sorte de todo o império.” (pág. 45)

A luta dos judeus contra o preconceito religioso, pelo direito de manifestação religiosa, não era uma luta pela emancipação humana. Ser aceito como cidadão comum não é uma luta por emancipação humana. Marx denuncia que Bruno Bauer defendia que os judeus pudessem ter os mesmos direitos burgueses que os cristãos. Que os judeus também tivessem direito a liberdade que, consequentemente, é “o direito humano ‘de joir et de disposer à son gré de ses biens, de ses revenues, du fuit de son travail et de son industrie.’”. (pág. 36)

“Este não é um fato isolado. O judeu se emancipou à maneira judaica não só através do poder do dinheiro como, também, porque o dinheiro se converteu, através dele e a sua revelia, numa potência universal, e o espírito prático dos judeus no espírito prático dos povos cristãos. Os judeus se emanciparam na madida em que os cristãos se fizeram judeus.” (pág. 46)

E continua, citando o coronel Hamilton, ao comentar os hábitos dos habitantes da Nova Inglaterra:
“…estas pessoas estão convencidos de não ter outra missão neste mundo senão a de enriquecer mais do que seus vizinhos. A usura apoderou-se de todos os seus pensamentos; sua única distração é ver como os objetos se transformam sob sua ação. Quando viajam, levam às costas, de um lado para outro, por assim dizer, sua loja ou escritório, e só falam de interesses e de benefícios. E ao afastarem, por um momento, os olhos de seus próprios negeocios, o fazem para saber os dos outros” (pág. 46)

“Segundo Bauer, é falso o fato de que, teoricamente, negue-se ao judeu direitos políticos, enquanto que, na prática, possui imenso poder e exerce influência política por atacado, embora esta seja desdenhada a varejo (“Judenfrage”, pág. 114)” . (pág. 47)

Então o judeu, assim como o cristão, está também aprisionado à propriedade privada, à alienação o trabalho do homem pelo dinheiro. Esta emancipação à qual ele luta pra ter é uma emancipação religiosa/política, que por trás tem em si o desejo de ser uma econômica - sendo que já o era naquela época.

O Estado político tem um papel fundamental dentro deste sistema de alienação. Ele é quem garante, pela força, a liberdade do homem. Garante a liberdade do citoyen. A liberdade, segundo Marx, do homem burguês, com o intuito de garantir o direito a liberdade da propriedade privada. Para isso, o cidadão burguês considerado como o homem natural pela Constituição Francesa de 1791 e 1795, tem no Estado político a garantia da segurança pública.

“O direito humano à propriedade privada, portanto, é o direito de desfrutar de seu patrimônio e dele dispor arbitráriamente (à son gré), sem atender aos demais homens, independentemente da sociedade, é o direito do interesse pessoal. A liberdade individual e esta aplicação sua constituem o fundamento da sociedade burguesa. Sociedade que faz que todo homem encontre noutros homens não a realização de sua liberdade, mas pelo contrário, a limitação desta.” (pág. 36)

“A segurança é o conceito supremo da sociedade burguesa, o conceito de polícia, segundo o qual toda sociedade somente existe para garantir a cada um de seus membros a conservação de sua pessoa, de seus direitos e de sua propriedade.” (pág. 37)

E aqui neste parágrafo que, considero, ilustra seu pensamento e a conclusão do problema proposto, encerramos esta análise dos capítulos I e II de “A questão judaica”, de Karl Marx, mostrando o que ele entende por alienação do trabalho e sobre como ele considera que o homem citado na Constituicão Francesa de 1791 está aprisionado por esta alienação:

“O dinheiro é o Deus zeloso de Israel, diante do qual não pode legitimamente prevalecer nenhum outro Deus. O dinheiro humilha todos os deuses do homem e os converte em mercadoria. O dinheiro é o valor geral de todas as coisas, constituído em si mesmo. Portanto, despojou o mundo inteiro de seu valor peculiar, tanto o mundo dos homens como a natureza. O dinheiro é a essência do trabalho e da existência do homem, alienada deste, e esta essência estranha o domina e é adorada por ele.” (pág. 48)

Portanto, desta forma, é simplesmente inútil que o judeu lute por emancipação análoga a dos cristãos, sendo que estão todos aprisionados pela alienação da propriedade privada.

sábado, 26 de junho de 2010

crisálida


Há algum tempo atrás imaginava que seria capaz de realizar todos os sonhos e os cultivava. Eles levaram-me longe demais de mim mesmo, caí da cama e acordei. Não realizei os sonhos, eles é que realizaram-me no que sou hoje. Agora é trabalhar e não dormir para ganhar dinheiro.

Todo silêncio, todo cuidado é preciso em tratando-se de seres humanos. Você é só mais uma pequena particular de todo um Universo. Agora chore todas suas angústias com a cara no travesseiro, pensando em como poderia ser bom se tudo aquilo não tivesse acontecido, se tivesse tomado a decisão contrária da que tomou naquele momento. Cometa este erro fúnebre consigo mesmo e verá que nunca se perdoará pelo que deixou de fazer quando poderia ter feito outra coisa da vida ao invés de lamentar-se.

As pessoas vão e vêm em nossas vidas: isto é uma dádiva. Espero que a próxima pessoa a entrar na minha vida tenha menos pretenção de que eu seja perfeito. Minhas imperfeiçãos são parte de mim como cada fio de cabelo. O que importa é que eu produza, produza algo para alguém que não seja eu e receba uma quantia em dinheiro por isso. Seja um assassitato por encomenda ou uma entrega como moto boy, o importante na vida é trabalhar para alguém e recebe por este trabalho.

Esqueça a egoísta ambição de ser amado eternamente, de ter filhos e uma família feliz. Primeiro ganhe dinheiro e torne-se atraente aos olhos de quem será sua próxima companhia até que o amor acabe. Não deixe de treinar a forma de tratar a faxineira pois será importante. A elegância deve ser usada com todos e todas.

Talvez, quando chegar em Bali, esteja um lindo dia de sol. Mas sua passagem já está comprada e não é possível reservar o verão no mundo inteiro a todo instante. A primavera tem de estar dentro de nós para que o sorriso floresça. Talvez não seja possível reparar, mas isto é um poema.

Para continuar poética, a poesia não deve ser ortodoxa, simplesmente. Ela é a válvula de escape do mundo. Quando acabam-se as drogas, recorremos à diegese.

Minha utilidade resume-se a não ter mais o que fazer. Quero ocupar-me das circinstâncias advindas da esperança. Minhas lágrimas estão entaladas na garganta e não conseguem sair do meu peito no turbilhão desejado. A inquietude obriga-me a buscar o desafio de superar-me a cada instante, sendo eu mesmo quando gostaria de ser algo diferente; e vivo tentando transformar-me nesta coisa indefinida. Minha forma completa e acabada será um cadáver.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Com Sagrar





Cama, mesa e banho
Vai que vai, fundo
Sala, quarto, cozinha, banheiro
É, de quem chegar primeiro

Amanhã serei
Será
Não sei
De, vem, ser, hei

Chega mais um pouco
Perto longe de mim
Para sempre assim
Por você como um louco

Então eu acalanto
Minha boca
Fica de touca
Enquanto eu canto

Casa mento lado
De lá
Pra cá
Eu estou ato lado

(Para Vitorto)